quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

Teologia Histórica

DEFINIÇÃO:
Teologia Histórica é o ramo da teologia que busca investigar as circunstâncias históricas em que as idéias se desenvolveram ou foram formuladas.
Visa desvendar a ligação que existe entre o contexto e a teologia. Aponta para o fato de que existe na teologia um elemento transitório ou condicional que não é necessário, nem inerente a seus fundamentos.
O estudo da história da teologia nos fornece instrumento para correção das visões estáticas da teologia.

VISÕES CONFLITANTES NO SEGUNDO SÉCULO
Início da formação de uma teologia
Motivações: A morte dos apóstolos
A necessidade de resolver problemas doutrinários emergentes
O surgimento de controvérsias doutrinárias.
Os primeiros teólogos: Bispos, líderes da Igreja – Orientações, cartas;
Os apologistas: Início de uma reflexão sobre a fé.

CRÍTICOS E SECTÁRIOS
Perturbações do início do segundo século

O GNOSTICISMO
Gnosticismo designa o movimento histórico e religioso cristão que floresceu durante os séculos II e III, cujas bases filosóficas era a antiga Gnose (palavra grega que significa conhecimento), com influências do neoplatonismo e dos pitagóricos.
Originou-se provavelmente na Ásia menor, e tem como base as filosofias pagãs, que floresciam na Babilônia, Egito, Síria e Grécia.
Combinava elementos da Astrologia e mistérios das religiões gregas, como os mistérios de Elêusis, com as doutrinas do Cristianismo.
Em sentido mais abrangente, o Gnosticismo significa "a crença na Salvação pelo Conhecimento".
Revindicava a posse de conhecimentos Acreditavam possuir o conhecimento de uma doutrina secreta de Jesus que os tornava diferentes dos cristãos alheios a este conhecimento
A fé era para os que ainda não tinham cultura, isto é, para os ignorantes: servia para iniciá-los na exposição simples do dogma; era a ciência vulgar das massas.
A gnose restringia-se a um pequeno número de eleitos que podiam atingir a transcendência dos problemas religiosos, constituindo-se na filosofia do cristianismo.

A DOUTRINA GNÓSTICA
O gnosticismo tornou-se forte influência na Igreja primitiva levando muitos cristãos da época como Marcião (160 d. C.) e Valentino de Alexandria a ensinar sobre a cosmovisão dualista, premissa básica do movimento.
Acreditavam na existencia de dois deuses: o criador imperfeito,(Demuirgo) associado a Jeová do Velho Testamento e outro, bom, associado ao Novo Testamento.
O primeiro criou o mundo com imperfeição, e desta imperfeição é que se origina o sofrimento humano.
O deus bom teve pena dos homens e dotou-os de uma "centelha divina", que lhes dá a capacidade de despertar deste mundo de ilusões e imperfeição.
Acreditavam no dualismo, e enfatizavam o conflito entre o mundo matérial e mundo espírital, entre carne e espirito
Consideravam o corpo como prisão da alma e o homem como ser espeiritua (centelha divina)
Consideram que o estado do homem neste mundo é "anti-natural", pois ele está submetido a todo tipo de sofrimentos.
Para eles, é necessário que o homem se liberte deste sofrimento, e isto só pode ocorrer pelo conhecimento.
Acreditam que o Universo foi criado a partir de emanações do Absoluto, seres finitos chamados de Eons que se reúnem no Pleroma.
No princípio tudo era Uno com o Absoluto, então em um determinado momento, emanaram do Absoluto estes eons, formando o pleroma.
O pleroma é um plano arquetípico, abaixo do qual está o plano material, manifestado.
O que antes era Uno e vivia no pleroma, se despedaça em partes. Este estado de infelicidade, pela descida no pleroma é o que ocasiona o sofrimento do homem neste mundo.
Um dos éons (Sofia) deu à luz o Demiurgo (artesão em grego), que criou o mundo material "mau", juntamente com todos os elementos orgânicos e inorgânicos que o constituem.
Os gnósticos ensinavam que a salvação vem por meio de um desses éons, geralmente apresentado como o décimo terceiro éon (identificado com o Cristo), distinto dos doze éons que regem o mundo decaído.
Segundo eles, Cristo se esgueirou através dos poderes das trevas para transmitir o conhecimento secreto (gnosis) e libertar os espíritos da luz, cativos no mundo material terreno, para conduzi-los ao mundo espiritual mais elevado.
Segundo os gnósticos, Cristo não veio em carne e nunca assumiu um corpo físico (Docetismo), nem foi sujeito à fraqueza e às emoções humanas, embora parecesse ser um homem,
Para que o homem possa se libertar dos sofrimentos deste mundo, ele deve retornar ao Todo Uno, por ascensão ao pleroma, e isto só pode ser alcançado pelo Conhecimento Verdadeiro (Gnose). Este despertar só pode ocorrer se o homem se descobre, "conhecendo-se a si próprio".

A ÉTICA DO GNOSTICISMO
A ética do gnosticismo se relacionava com seu dualismo básico. Se a salvação consiste na libertação do espírito do mundo material, o ideal ético seria concebido em termos ascéticos.
Certas seitas pre¬gavam uma forma extremamente estrita de abstinência, como, por exemplo, os chamados ENCRATITAS.
Alguns. Consi¬derando o fato que o espírito nada tinha a ver com o material, pensava-se que as ações externas não tinham importância alguma. 'diziam que a independência da matéria só podia ser obtida quando a gente se entre¬gava completamente às concupiscências da carne (Iibertinismo).
PRINCIPAIS MESTRES GNÓSTICOS
BASÍLIDES: Trabalhou no Egito por volta do ano 125. Seu gnosticismo tinha natureza mais filosófica, e a influência grega era mais forte.
MARCIÃO DE SINOPE (cerca 110-160) Foi um teólogo cristão e fundador do que veio depois a ser chamado marcionismo.
Era filho de um bispo da Igreja, e no início aceitava a fé da igreja, mas então sofreu a influên¬cia do gnóstico sírio Kerdo, principiando assim o processo de formação de sua própria teologia original.
Chegou a Roma por volta de 140; quando foi expulso pela congregação local, organizou sua própria igreja, que em pouco tempo cresceu consideravelmente. Vestígios desta organização ainda pude¬ram ser encontrados em vários lugares até mesmo no século VI.
MENANDRO: Patriarca gnóstico da corrente caldeu-síria, foi uma das figuras mais importantes do Gnosticismo. Como Simão Mago, era da mesma cidade de seu Mestre e transmitiu os ensinamentos Gnósticos e como também mágicos.
SIMÃO MAGO: Sabe-se que era samaritano e praticante de magia. Tanto nascimento quanto falecimento são desconhecidos, citado no Novo Testamento e nas obras dos Padres da Igreja.
SATURNINO: Apareceu na Síria no inicio do segundo século. Seu siste¬ma gnóstico revela influência oriental.
VALENTINO: Acredita-se que nasceu em Cartago, mas outras informações dizem que nasceu no Egito. Estudou em Alexandria e ensinou em Roma, entre 135 e 160. Aluno de Thedoras, foi um dos mais influentes líderes gnósticos.
Quase eleito papa, teve uma grande importância nas bases do cristianismo primitivo.

OUTROS MESTRES: Bardesane, Carpócrates, Cerinto.
O EBIONISMO: Do hebraico Evyonim, "pobres") é o nome de uma das ramificações do Cristianismo primitivo, que pregava que Jesus de Nazaré não teria vindo abolir a Torá como prega a doutrina paulina.
Pregavam que tanto judeus como gentios convertidos deveriam seguir os mandamentos da Torá, o que levou a um choque com outras ramificações do Cristianismo e do Judaísmo.
Diziam que é necessário obedecer a todos os mandamentos da Lei de Deus (Torá), inclusive ao mandamento de fazer a circuncisão.
Que os gentios que se convertem a Deus devem se circuncidar e obedecer a todos os mandamentos da Lei de Deus,
Que Jesus Cristo é o Messias, mas não é Deus, e não nasceu de uma virgem, mas sim foi gerado por José.
Criam que Paulo de Tarso foi um apóstata da Lei e não foi um verdadeiro apóstolo de Jesus Cristo, e as Escrituras Sagradas são somente o Tanach (Antigo Testamento) e um único evangelho, que era considerado como sendo o Evangelho segundo Mateus, escrito em hebraico, e era menor do que o Evangelho segundo Mateus em grego que é usado pela Igreja.

ORIGENS DO EBIONISMO
As origens do ebionismo ainda são obscuras. Crê-se no entanto que o ebionismo é o cristianismo original, ou uma das ramificações primitivas do cristianismo. Em oposição à doutrina paulina, o ebionismo deve ter surgido entre os seguidores de Jesus e Tiago, o Justo, que buscavam conciliar a crença messiânica com o cumprimento das leis da Torá.
Embora os judeus cristãos mencionados em Atos 15:1 e 21:20 não fossem ainda chamados ebionitas, pois esta denominação somente começou a ser usada mais tarde, eles eram ebionitas, pois sua crença e prática era igual à dos ebionitas.
O movimento ebionita enfatizava a natureza humana de Jesus, como filho carnal de Maria e José, que teria se tornado Filho de Deus quando de seu batismo, e sendo descendente de Davi, tornar-se-ia o rei do povo de Israel e seu último grande profeta.
Desprezado por cristãos e judeus o ebionismo constituiu uma ramificação separada e organizou sua própria literatura religiosa.

O MONTANISMO
Foi um movimento cristão do segundo século fundado por Montano.
Os montanistas declaravam-se possuídos pelo Espírito Santo e, por isso, profetizavam.
Segundo estas profecias, uma outra era cristã se iniciava com a chegada da nova revelação concedida a eles.
Foi uma reação às inovações que foram introduzidas nas igrejas pelo gnosticismo e paganismo.
Foi organizado na Frígia entre 135 e 160 por Montano, Priscila e Maximinia (profetizas do movimento), para proclamar o estabelecimento do reino de Cristo e pregar contra o mundanismo das igrejas.
Proibia certos alimentos, exigia jejuns prolongados exaltava a castidade e não permitia o casamento de viúvas, negava o perdão de pecados graves ao novo convertido, mesmo após o batismo(com confissão e arrependimento).
Montano queria fundar uma nova ordem e reivindicar seu movimento como sendo um movimento especial na história da salvação.
O principal motivo de Montano era lutar contra a paralisia e o intelectualismo estéril da maioria das igrejas organizadas na época.
Dividia os pecados em mortal e venial e exaltavam o martírio.
Tornou-se o precursor do cristianisno ascético.
Reivindicaram ter recebido revelações divinas enquanto em estado de êxtase.
O espírito lhes dava a interpretação ascética de certas passagens bíblicas.
O montanismo é uma explosão de profetismo, dando importância especial a visões e revelações.
Tem caráter essencialmente escatológico.
Cria que o período do Espírito Santo se iniciou com Montano.
A nova Jerusalém seria inaugurada na aldeia de Pepuza, na Frígia para o reino de 1.000 anos.
Era necessário viver em continência e preparar-se para tanto.
O movimento foi condenado várias vezes por vários sínodos de bispos, tanto na Ásia Menor como em outros lugares.
A Igreja montanista se espalhou pela Ásia Menor, chegou a Roma e ao norte da África.
Seu adepto mais famoso foi, sem dúvida, Tertuliano - o maior teólogo de então.

O ATAQUE DOS ESCRITORES PAGÃOS
Os escritores pagãos que agiram em defesa da religião imperial romana, da antiga filosofia, pensando estar defendendo a própria unidade do Império.
Celso é o mais conhecido destes escritores. Ele conhecia o Antigo Testamento e os Evangelhos. Pelo ano 178 ele escreveu o “A verdadeira doutrina: um discurso contra os cristãos”
Atacou as doutrinas cristãs da encarnação e da redenção e apresenta a vida de Jesus como fruto de enganos e fábulas.
“è impossível que Deus tenha descido à terra pois se o fizesse, teria que mudar sua natureza” (Celso)
Porfírio, que talvez já tenha sido catecúmeno, é outro destes polemistas. Pelo ano 270 ele publicou Contra os cristãos e Filosofia derivada dos oráculos, oferecendo aos pagãos uma doutrina que afirmava ser de revelação divina.
Marco Aurélio (121-180), imperador e filósofo, também buscou desmoralizar os cristãos, especialmente acusando-os de odiarem a raça humana pelo seu desprendimento em sofrer o martírio.
Muitos desses intelectuais procuravam demonstrar que os cristãos eram gente sem eira nem beira, e que a fé cristã era coisa para gente fracassada ou desocupada.

Luciano de Samósata é outro polemista que fez muito sucesso pelo ano 170 através da obra A morte de Peregrino, história de um filósofo necromante e errante, ridicularizando os cristãos pelo amor fraterno e desprezo pela morte.
Luciano quer retratar os cristãos como gente ignorante vítima de embusteiros.
Estas obras e outras se constituíram numa forte tentativa de menosprezar a nova fé e evitar a adesão de novos membros.

CONCLUSÕES
As obras anti-cristãs desafiaram a Igreja a elaborar um outro tipo de literatura, dando-lhe aspecto científico, em forma apologética, isto é, de defesa frente aos ataques de intelectuais pagãos.

Um grande número de pessoas, com sólida formação intelectual, entrara na Igreja e sentiu a necessidade do confronto com a filosofia pagã.

A fé não nega a inteligência, pelo contrário, a confirma.

“A teologia nasceu para responder perguntas, satisfazer as necessidades de mentes indagadoras tanto de dentro como de fora da igreja” (Olson, p. 34)

“Os cristãos enfrentaram o desafio apresentado por Celso. Suas respostas a oponentes pagãos como Celso , fanáticos como Montano e hereges como os gnósticos deram origem à teologia Cristã” (Olson, p. 34)

“Os cristãos decidiram conquistar sectários e críticos pela persuasão com argumentos sensatos demonstrando a lógica interna e a coerência da mensagem legada pelos apóstolos” (Olson, p. 35)

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